MATERIAIS PRODUZIDOS
Alunos: Núria Manresa e Bernardo Carvalho
Link para vídeo: https://youtu.be/L0ohX0ACoCM
Link onde estão sendo alimentadas as atualizações do projeto que ainda está em andamento: http://www.brotosoficina.com.br/Assessoria-Tecnica-Horta-comunitaria-escolar
REFORMA DO PÁTIO: A "COMUNIDADE ESCOLAR" COMO GRUPO SÓCIO-ESPACIAL
Devido ao curto tempo de elaboração, os arquitetos decidiram realizar o trabalho final de assessoria técnica com um grupo sócio-espacial em que já atuavam. Não foi feita uma assessoria em habitação, mas sim de produção e gestão do espaço escolar de uma escola municipal de ensino infantil. O grupo sócio-espacial trabalhado foi o da comunidade escolar que inclui pais, funcionários, alunos e vizinhos da escola. Será descrito neste trabalho um breve histórico, as interfaces utilizadas para a organização das ações espaciais do grupo, o que já aconteceu e um agenda do que se planeja fazer. “Na linguagem de Henri Lefebvre, um grupo sócio-espacial produz um espaço e é produzido por ele. Um grupo que dá conta de se constituir produzindo um espaço ou na perspectiva de fazê-lo, terá alguma ideia de autonomia, por mais frágil que seja. A assessoria visa a fortalecer essa autonomia.” (KAPP, 2018)
Os arquitetos e assessores técnicos, Núria e Bernardo, entenderam ser possível encontrar formas de atuar no contexto citado, utilizando a transformação do espaço como meio articulador entre os diversos saberes e as potencialidades latentes nos desejos e vontades de pais, alunos, professores e funcionários da EMEI Vila Estrela.
“Assessoria técnica que reconhece o potencial do grupo e tenta encontrar meios para apoiar e ampliar as iniciativas, trazer os conflitos à tona, facilitar negociações, prover informações técnicas, fomentar a melhor compreensão dos efeitos das diversas mudanças imaginadas. Se o grupo chegar à conclusão de que precisa de projetos para resolver certas questões, a assessoria os fará com a devida expertise. Entretanto, sua principal tarefa não é desenhar a escola e sim criar interfaces para que o grupo continue produzindo o espaço que o constitui como grupo e para que seja capaz de fazer isso melhor que antes. A meta não é um objeto arquitetônico íntegro e sim um grupo sócio-espacial ativo. Se a assessoria for bem sucedida, é provável que as pessoas da escola adquiram mais competência para imaginar, negociar, decidir e realizar mudanças. E talvez a experiência as estimule a expandir essa atuação para o terreno ao lado ou a rua em frente, o que abriria um novo capítulo de interações.” (KAPP,2018)
As experiências descritas aqui ocorreram em diversos momentos dos últimos cinco meses. A arquiteta Núria é mãe de uma das alunas da EMEI, trabalha com paisagismo e marcenaria pelo escritório Brotos Oficina, juntamente a seu companheiro André. Bernardo é arquiteto e trabalha com serralheria e marcenaria pela Oficina.CC, uma oficina-escola de ofícios manuais. A afinidade pelo trabalho com as mãos e a ideia de desenvolver este trabalho de forma conjunta não é coincidência.
O uso do pátio da EMEI é disponibilizado para pais de alunos e o restante da comunidade escolar durante o fim da tarde, pois não existem praças nas imediações da escola. Como o pátio é pouco usado no horário das aulas alguns pais perguntaram os motivos às professoras que levantaram uma série de problemas no espaço. Em conversa com as professoras, descobriu-se que o pátio é considerado perigoso para as crianças, pois bate muito sol e quase não existem locais com sombra. Além de alguns brinquedos não serem considerados adequados pelas educadoras. Para levantar todos os problemas a assessoria criou a ferramenta Mapeamento: Qual a sua ideia para o pátio?
A princípio, podemos destacar algumas potencialidades da assessoria prestada para organizar a gestão e produção coletiva do espaço escolar: fortalecimento dos laços de comunidade escolar, compartilhamento de conhecimentos específicos, desenvolvimento de atividade manual, visão crítica sobre alimentação e modos de produção sustentáveis. Podemos também traçar um paralelo entre essas ações e o que a arquiteta Maria Cecília Alves definiu como “práticas educativas arquitetônicas”:
“A expressão práticas educativas arquitetônicas enfatiza a relação recíproca entre educação e arquitetura. Não são práticas educativas para a arquitetura e nem práticas arquitetônicas para a educação, mas sim, as duas trabalhando juntas. É prática porque o trabalho incentiva a reflexão sobre a arquitetura associada às atividades que estimulam o ato de fazer com as próprias mãos.” (ALVES, 2013).
Histórico - Porque a horta nunca vai para frente?
Relato Núria - Quando minha filha ingressou em uma EMEI, tive vontade de participar de alguma forma do cotidiano da escola e propus à direção ajudar a revitalizar a horta da escola, já que tenho alguma prática em jardinagem. A direção me alertou que a horta da escola já havia sido plantada em outros momentos, uma vez por uma professora, outra vez em um mutirão de pais e mães de alunos. A diretora desanimada disse que eu podia ficar à vontade para plantar, mas que não tinha expectativa quanto a durabilidade do projeto pois pela sua experiência depois de um tempo o entusiasmo acaba e a horta definha sem cuidados. Sabendo que a existência de uma horta ou jardim dependem principalmente do cuidado diário e que eu não disporia deste tempo já que não sou eu quem sempre levo e busco minha filha, pedi a direção que se soubesse de outros pais interessado nesta atividade que passasse meu telefone. Alguns pais entraram em contato e foi feito um grupo de Whatsapp e esta é uma das ferramentas utilizadas pelo grupo para distribuição de tarefas. Descreveremos neste trabalho as ferramentas digitais e análogicas utilizadas para a gestão coletiva e produção do espaço em grupo.
O que já aconteceu?
Reuniões
Aconteceram 2 reuniões, uma no mês de Março e outra em Abril onde foi acordado entre o grupo e a representante da instituição regras gerais de uso do espaço escolar e também foram negociadas expectativas e desejos do grupo. O grupo, para se conhecer melhor, decidiu começar pela revitalização da horta escolar para depois, se desse certo essa primeira etapa, partir para revitalização do pátio como um todo.
Mutirões
Aconteceram 15 mutirões, sendo o primeiro no dia 10/04/2019 e o último dia 03/07/2019. Os mutirões continuam acontecendo toda quarta-feiras às 9 da manhã e é aberto à toda a comunidade escolar. O grupo já recebeu doações de esterco, adubo e sempre recebe doação de mudas. Costumam ir nos mutirões de 3 a 12 entre adultos e crianças.
Ferramentas Digitais e Analógicas para gestão e produção do espaço
Grupo de Whatsapp
O grupo de whatsapp foi criado em março deste ano e conta agora em julho com 41 participantes. No grupo são discutidos os problemas - e possíveis soluções -do pátio externo escolar, como a destruição da horta pelos gatos e o aparecimento de escorpiões proveniente do lote público abandonado ao lado.
Pelo grupo de whatsapp também são reportados as ações feitas nos mutirões e sugestões de atividades para os próximos mutirões. Como não são sempre os mesmo participantes nos mutirões o grupo de discussão é uma importante ferramenta analógica para o trabalho ter continuidade.
Google Drive
O grupo também conta com um google drive onde são registradas todas as atividades feitas em cada mutirão e quem participou. Também são registradas as atas das reuniões e são planejadas as ações futuras. Foi pelo drive que foi feita a votação do melhor dia da semana para ser o mutirão fixo.
Mutirão semanal
O grupo tem como dia fixo a quarta de manhã para reparos da horta e plantios. Além disso o grupo se reveza pela manhã e no fim da tarde para regar a horta.
Placa de acrílico na horta
Foi encontrada no lixo por uma mãe uma placa de acrílico que foi doada para a horta e serviu como base para croqui da planta da horta com identificação das espécies e um aviso do dia e horário em que acontecem os mutirões semanais. A placa foi feita para convidar pessoas interessadas em participar e que ainda não fazem parte do grupo de whatsapp. Esta placa fica afixada no gradil da horta.
Quadro de registros dos acontecimentos
Foi doada uma placa de metal para o grupo da horta. A placa foi afixada ao lado da porta de entrada das crianças. Nesta placa também fica afixado um aviso do dia e horário em que acontecem os mutirões semanais e recentemente um grupo de mães que participa do grupo da horta se propôs a fazer o que elas chamaram de jornal da horta contando das propostas, ideias e acontecimentos.
Mapeamento: Qual a sua ideia para o pátio?
“Qual é a sua ideia para o pátio externo?” é um mapeamento que está em processo de realização. Foi fixado um papel pardo com a planta da escola impressa em um tamanho que fosse possível colar papéis adesivos coloridos com comentários sobre o espaço. O papel verde indicava as atividades que já ocorrem lá (o reconhecimento das atuais qualidades do espaço pode ser um bom indicador do que é valorizado pelas pessoas). O laranja trazia as ideias das pessoas, o que elas desejam que passe a acontecer (momento importante, pois expõe as prioridades de cada um). Por fim, o papel rosa era preenchido com os problemas identificados no pátio (é interessante saber que o que é problema pra alguém pode ser o que o outro valoriza).
Quer desenhar uma proposta para o pátio?
Foi fixado um papel pardo com o convite “Quer desenhar uma proposta para o pátio?”. Também escrevemos: Desenhe aqui alguma ideia que gostaria de fazer no pátio externo da EMEI. Não se preocupe em fazer um desenho técnico, pode ser esquemático. Puxe linhas de explicação se necessário. Se não quiser desenhar pode trazer um recorte ou impressão de uma ideia e colar aqui neste papel. Pense em propostas que possam ser executadas com facilidade por nós, a comunidade escolar. Nos mutirões de construção seremos assessorados por uma arquiteta, um marceneiro e um serralheiro. Se não tiver nenhuma ideia mas tiver algum material para doar, favor registre também.
Tabela para registro de materiais para doação
Uma tabela para registrar materiais disponíveis para o mutirão.
Próximos passos
Mutirão de férias com serralheiro e marceneiro
Do dia 17/07 ao dia 31/07 serão as férias escolares. Foi acordado com a direção que a escola abriria durante às férias de 8h às 13h e que neste horário pais, mães e alunos poderiam frequentar a escola para a manutenção da horta e produção do espaço de brincar. A ideia é que até as férias os processos de elaboração coletiva do projeto do pátio já estejam finalizados e possamos iniciar os mutirões. Os mutirões construtivos serão assessorados pelo arquiteto-serralheiro Bernardo do escritório No Prumo, o marceneiro André Perillo e a arquiteta-jardineira Núria Manresa, ambos do escritório Brotos Oficina Botânica.
Bibliografia
ALVES, Maria Cecília; KAPP, Silke. Para Casa de arquitetura : prática educativas arquitetônicas. 2013.
KAPP, Silke. Grupos sócio-espaciais ou a quem serve a assessoria técnica. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v.20, n.2, maio-agosto, 2018, p.221-236.